mercredi 25 juillet 2007

station Vélib'

Paris acaba de ganhar um ótimo presente: o Vélib'. bancado pela prefeitura, o serviço dispõe de 700 estações de bicicleta, a cada 300 metros, espalhadas pela cidade. funciona assim: os 30' iniciais são sempre gratuitos, a gente pega a bicicleta numa estação e a devolve em outra. só a partir da meia hora gasta que o uso começa a ser cobrado, então se o percurso é longo existe a opção de pedir uma carteirinha Vélib' que se carrega com créditos, como se faz com celular. Paris não é mesmo xic*xic além de ser super prática?

Bertrand Dellanoë, o prefeito, disse assim: o Vélib' é um serviço que vai depender muito do humor do parisiense. se ele acorda, o dia está bonito e ele tem vontade de trabalhar de bicicleta, ele vai, senão é só pegar o ônibus ou o metrô. o melhor é que é tudo verdade, a gente vai pra qualquer lugar em Paris sem se preocupar com carro, a vida ganha outro sentido assim! ainda mais pra mim que nunca dirigi...

tudo bem, eu vou falar, o serviço tem um grave defeito: as bicicletas disponíveis no Vélib' não são as italianas da Abici... feitas artesanalmente e com cara de velhinhas, elas reúnem o máximo do conforto e da tecnologia em bicicletas. mas, se fosse assim, o povo ia levar as magrelas pra casa e ia ter barraco todo dia em Paris!

dimanche 22 juillet 2007

Roy Lichtenstein: "Évolution"

um dos artistas mais importantes da Pop Art americana ao lado de Andy Warhol, Roy Lichtenstein, está em cartaz em Paris. inaugurada em junho, na chique Place de la Madeleine, a Pinacothèque de Paris apresenta pela primeira vez uma visão tão completa e inédita da sua obra.

a exposição, organizada pela Fundação Roy Lichtenstein (Nova York) e pela Fundação Juan March (Madri), revela com profundidade todas as fases do processo de criação do artista através de croquis, desenhos, colagens e maquetes que preparam o público para a extraordinária seleção de pinturas e esculturas.

são 97 obras, geradas entre 1966-97, ano de sua morte. o plano da exposição permite a descoberta das fontes de inspiração do artista, como os trabalhos inspirados nos retratos cubistas de Picasso (que Lichtenstein reconhece como influência fundamental na sua arte), em personagens populares como Pato Donald e Tintin, às referências de pintura asiática e do seu próprio universo interior.

além disso, a mostra também exibe um filme realizado pelo artista sobre paisagens marinhas (entre 1964-66), outro sob encomenda de Los Angeles County Museum of Art (1970) enfocando arte e tecnologia e um documentário totalmente inédito produzido em seu atelier, em Nova York (1995).

programa imperdível pra quem estiver em Paris até 23/9.

vendredi 20 juillet 2007

perfume a alma

o mundo anda assim, de mau humor!

alguém que tenta quebrar a imutável rotina de Paris, atira pela janela do 5º andar cadeiras, arquivos e sacos de lixo que surtam na calçada da Général Leclerc. as pessoas tentam se proteger debaixo das marquises, os velhos, sempre eles, chacoalham a bengala pro alto e bufam em coro grave. a mendiga do quartier sai da loja de produtos bio e começa um estranho ritual, na minha imaginação ela se perfuma. joga a embalagem sem olhar pra trás e quando a chuva do apartamento termina eu vou correndo bisbilhotar o que ela largou. para a minha surpresa, a mendiga realmente se perfumava e como uma bobo (patricinha) neo-bio, também usa Bach!

na bula de Vivacité(s), eu leio que o misto de essências spicy elimina as tensões psicológicas, faz emergir o lado positivo de uma situação negativa e promove o encontro da harmonia interior. a vida de um SDF (sigla francesa para "sem domicílio fixo"), mesmo que seja por opção de abraçar a liberdade e renunciar aos paradigmas da sociedade, nem sempre deve ser um mar de rosas.

agora eu me questiono se o perfume é bom o suficiente pra abafar o odor de pomba molhada da clocharde, mas, talvez, o seu cheiro seja a sua defesa e o que importa é a alma. ah, ela também adora café de máquina, ser bio tem seus limites!

lundi 16 juillet 2007

french maid Barbie

eu amo as Barbies de look retrô! a french maid, com este uniforme que é puro fetiche fez a festa dos colecionadores: o saiote engomado com as rendinhas à mostra é très-sexy e a meia-calça arrastão tem um charme matador! a boneca ainda acompanha um espanadorzinho luxo de penas rosa-choque! lançado em 2006, a french maid está completamente esgotada, todas as 5200 empregadinhas foram imediatamente "contratadas"!

pudera, uma serviçal destas reinaria absoluta em qualquer hôtel particulier, mas aviso que não existem francesas neste posto em Paris! quer dizer, encontrar uma que seja BBR há gerações é uma tarefa quase impossível. BBRs legítimas não são empregadas domésticas, nem enfermeiras. os franceses politicamente corretos falam assim: "gente corajosa do leste faz este tipo de trabalho".

semana passada um escandalozinho tomou conta dos jornais locais. uma marca francesa de cosméticos mundialmente conhecida e uma agência de recrutamento de modelos foram acusadas de racismo ao selecionar as meninas que fazem a promoção dos produtos. o motivo do estardalhaço? uma certa sigla depurativa que constava na ficha da agência em letras graúdas: BBR (bleu-blanc-rouge), ou seja, francesa gaulesa nascida e criada! não podia ser uma polonesa que passasse por francesa, muito menos uma negra francesa, a empresa exigia 100% de fidelidade, ou seria melhor dizer pedigree?

o hábito, definitivamente, não faz o monge...

samedi 14 juillet 2007

encha os bolsos e dispense a bolsa!

tem alguns lugares em que é muito chato carregar bolsa, eu pelo menos não tenho paciência pra levar penduricalhos em shows e parques, por exemplo. pra gente assim, Y's Mandarina criou uma linha interessantíssima: são vestidos, aventais e outras peças de sobreposição carregados de bolsos, de todas as formas e tamanhos, pra você sair de casa levando tudo que precisa.

Y's Mandarina, nasceu da parceria do estilista japônes Yohji Yamamoto com a marca de bolsas italiana Mandarina Duck. a coleção Primavera/Verão 2007 inclui acessórios pra viagem, pochetes (credo!), valises e bolsas, mas a estrela é o modelo da foto, batizado de Tablier (avental).

o modo de usar você escolhe: serve pra vestir ou pra carregar apetrechos. interessante como criação, apesar que eu jamais vestiria um saco de viagem por todas as implicações que cabem à ele, Tablier tem uma silhueta ajustável ao corpo que pode transformá-lo num vestido desestruturado, bem ao gosto de Yohji. o modelo 2 em 1 está por quase 1000 euros na Y's de Paris - você vai ter coragem de desperdiçá-lo como saco de viagem?

mardi 10 juillet 2007

scooter elétrica

não poluir o meio-ambiente é ótimo pra alma do planeta e também pra nossa frágil saúde, mas poder fazer isso com estilo é o melhor de tudo! claro que estamos falando de uma gota num oceano de tsunamis, e eu me pergunto o quanto isso realmente ajuda pra melhorar o ar que respiramos e pode conter a fúria terrestre que anda com os nervos à flor da pele...

se tivermos sorte, após as mudanças climáticas previstas (?) pelos cientistas e muitos cataclismas depois, uma frota de veículos elétricos vai vencer o lobby dos carros à gasolina e circular nas ruas das grandes cidades com popularidade! e a vida, aliada à outras medidas ecológicas, poderá finalmente triunfar saudável.

por hora, uma alternativa que seduz é o look retrô da Scooter EVT 168, o preço do combustível mais ainda: 50 centavos de euro por 100 kms! na França, este modelo que lembra a cultuada Vespa e tem cores fantásticas, custa 2.490 euros. pra encher o tanque é simples, é só parar na frente de uma tomada e carregar de kilowatts. o problema é que não dá pra viajar longe, a autonomia da bateria acaba após rodar 45 kms de puro charme, mas quem quer cansar a beleza e atravessar o mundo em cima de uma motinho?

lundi 9 juillet 2007

vogue en beauté

vendem a exposição "Vogue en Beauté - 1920-2007" como uma das últimas maravilhas do mundo, mas que nada... o que fica claro é que não escolheram à dedo as 100 peças expostas, o que estava à mão foi; isso porque o acervo da Vogue francesa possui cerca de 25 mil registros fotográficos arquivados! a distribuição do material entre as décadas também não é boa, mais da metade da exposição abrange o período de 1985-2007, fotos que ainda estão presentes na nossa memória, uma pena, porque sempre é bom ser surpreendido!

apesar de tudo, o início de "Vogue en Beauté" mostra ilustrações e/ou fotos lindas de corpos e enquadramentos que não vemos mais, mas nem adianta se animar porque são no máximo 20. Mario Testino é, sem dúvida, o fotógrafo que o curador da exposição quis que fosse representativo, ele deixa muito pra trás Helmut Newton e Guy Bourdin, que têm uma foto ali e outra acolá. a mudança estética de como mostrar a mulher durante as décadas está clara, eu só acho que a exposição poderia ser mais interessante se não houvesse a preocupação de mostrar tantas fotos com o perfume Chanel e se manter demais nas últimas décadas. "Vogue en Beauté" rendeu um livro, mais interessante que a própria mostra, com textos aprofundados de cada época e algumas fotos extras.

enfim, se você aparecer em Paris até 2 de setembro e não tiver o que fazer vá, porque também vai poder apreciar cara a cara os globos Coronelli (celestial e terrestre), no saguão da BNF - Bibliothèque Nationale de France. construídos à pedido de Luis XIV por Vincenzo Coronelli, cartógrafo reputadíssimo e monge franciscano de Veneza, eles mostram as conquistas do Rei Sol. além de ser um trabalho belíssimo, é imperdível ver o Brasil representado apenas por negros nus e selvagens: no centro-oeste eles se auto-flagelam e comem a própria carne em super espetinhos de pernas ou braços. exótico no último!

mercredi 4 juillet 2007

moda-bio

nada é tão fashion em Paris quanto comer e usar produtos bios, éticos, equitativos, naturais, reciclados. a histeria é tanta que, pra vocês terem uma idéia, até a mendiga da minha rua só compra na loja bio. ela entra e todo mundo sai correndo, eu adoro a cena!

a moda também começa a entrar com vontade neste segmento e confecções que só utilizam tecidos 100% bios e que pagam o preço justo aos artesãos envolvidos no trabalho (tudo certificado por selos rigorosíssimos, bien sûr!) começam a surgir.

uma delas é a Article-23, de Fréderic Bailly e Adam Love, estilista e colaborador de Karl Lagerfeld, Marianne Faithfull e Antike Batik. o "ético-chique", como eles definem o estilo da marca, é 100% bio, fabricado na Índia por mulheres que não são exploradas e que trabalham em condições apropriadas. pelo menos é o que os selos garantem.

mas nesta avalanche de tecidos ditos ecológicos, os especialistas bios alertam: o bambu e a soja não podem ser creditados como bios! o bambu, apesar de crescer rapidamente com pouca água e sem pesticida, precisa obrigatoriamente de componentes químicos para transformar a sua massa em fio; a soja pede 50% de petróleo para poder formar a fibra. então você já sabe, se a sua causa for ecológica, fique longe dos falsários-bios!

os selos que um eco-fashion precisa conhecer:

AB - selo europeu que certifica que a matéria-prima obedece os critérios bio;
BioRe, IMO e EKO - 2 selos suiços e um holandês de algodão bio e equitativo que garantem um tingimento sem produtos tóxicos e de fabricação controlada;
Ecocert - certifica a qualidade bio e de equidade do produto;
Label Confiance Textile - da ONG austríaca Oeko-Tex, garante a qualidade ecológica da fabricação da matéria-prima;
Max Havelaar - selo independente que garante o carácter de equidade da matéria-prima.

dimanche 1 juillet 2007

o desenho da alma francesa

quem gosta de ilustração e quer conhecer Paris pelo traço simples, mas genial e pleno de humor de um apaixonado pela cidade, "Un peu de Paris" é mágico.

prestes à completar 75 anos, Jean-Jacques Sempé deixou sua cidade natal, Bordeaux, aos 19 anos e nunca mais largou Paris, apesar das dificuldades que enfrentou no início da sua carreira. a partir de 1957, os seus desenhos que se tornariam famosos começaram a estampar os principais jornais e revistas da França e também dos Estados Unidos: cartuns para o New York Times e capas emblemáticas para a The New Yorker. da parceria com René Goscinny, um dos pais de Asterix, nasceu o clássico da literatura infantil "Le Petit Nicolas", personagem que guarda semelhanças muito próximas às vividas pelo próprio ilustrador quando criança.

em "Un peu de Paris", Sempé mostra através do seu olhar irônico, 80 cenas ícones da cidade: as manifestações políticas, as japonesas lotadas de sacolas fotografando lojas chiques, gente fazendo tai-chi no Jardin du Luxembourg, gatos saboreando o sol na janela, gays patinando nas margens do Sena, a rotina dos tradicionais cafés, o Les Deux Magots onde Simone de Beauvoir rascunhava "O Segundo Sexo" e dividia suas idéias com Jean-Paul Sartre.

sem esses símbolos poderosos e tão bem interpretados pelo traço filosófico de Sempé, Paris nunca seria Paris!