Por que, em seu primeiro filme, você decidiu falar sobre Ian Curtis ?Foi uma forma de fechar um ciclo. Foi a música de Joy Division que me estimulou a deixar minha Holanda natal para me aventurar na Inglaterra. Eu fiz fotos da banda e, depois da morte de Ian, elas se tornaram célebres e lançaram minha carreira de fotógrafo. Eu acho que este período, estas experiências de juventude, alimentaram o meu trabalho até recentemente e eu tive vontade de passar pra outra coisa, de trabalhar com coisas mais novas.
“Control” marca, talvez, o início de uma carreira de diretor, mas marca também o fim de um capítulo da minha vida.
O que impulsionou Ian Curtis a se suicidar com 23 anos?Ian estava dividido entre 2 mulheres: Debbie, com quem ele tinha casado muito jovem (aos 19 anos) e a jornalista belga Annik Honoré, que ele havia conhecido num show. No papel, claro, não é uma razão pra se matar. O problema é que ele tinha uma tendência depressiva. Além do mais ele tomava medicamentos contra a epilepsia que, combinados com álcool, causavam fortes mudanças de humor. Na cabeça de Ian, os seus problemas se tornavam insuportáveis.
Você convive com estrelas do rock há mais de 30 anos, por qual razão você acha que eles têm tendência a deixar a vida tão jovens?São sempre pessoas frágeis. Estar perto da genialidade, às vezes, é lidar intimamente com a loucura.
Sam Riley, o ator que encarna Ian, é fantástico…Ele foi uma descoberta incrível. Eu não queria alguém conhecido, o que complicava as coisas. Então encontramos Sam. Ele não apenas parece com Ian, ele tem a mesma textura vocal. Teve muitos acasos felizes neste filme, por exemplo: são os atores que interpretam eles mesmos todas as músicas. Foi idéia deles e para ser sincero eu não achava que isso funcionaria. No final o resultado ficou arrebatador.
Por que um filme em preto e branco?Eu hesitei porque eu estava consciente que isto arriscaria afastar uma parte do público, especialmente dos Estados Unidos. Mas, se a gente pensa em Joy Division, se a gente lembra das fotos que foram feitas deles, elas são todas em preto e branco. Por tudo isso me pareceu ser a escolha certa.
Como foi a sua trajetória ?Eu cresci numa pequena ilha ao sul de Rotterdam, num povoado onde o meu pai era o pastor local. Eu recebi uma educação fortemente religiosa, protestante, o que transparece no meu trabalho. Eu me tornei um apaixonado pelo mundo da música, que da minha pequena ilha perdida me parecia super misterioso. Eu dedici me aproximar pelo olhar da foto. Claro, isso não foi nada inocente: na religião protestante você não tem icônes, eles são considerados uma heresia. Tanto faz que fotografar me parecesse o auge da rebeldia, mais tarde eu percebi que o meu trabalho não era tão diferente daquele que o meu pai fazia: são as pessoas que me interessam. O ser humano, não o
glamour. Minhas fotos, meu trabalho, só discutem isso.
* entrevista concedida à Olivier Bonnard
em 3 anos e apenas 2 álbuns, o Joy Division lançou as bases da new wave e mudou a história do rock. Bernard Sumner, guitarrista da banda e que se tornou o vocalista do New Order, fala do início de tudo.
Como se formou o Joy Division?A gente vegetava em Manchester, uma cidade assolada pelas crises dos anos 70, as usinas fechavam uma atrás da outra. Então o punk chegou e foi depois de assistir a um show dos Sex Pistols, em 1976, que decidimos montar o grupo. A gente ensaiava nas usinas desativadas com as janelas destruídas. No inverno fazia muito frio, a gente fazia fogueiras pra se aquecer. Nestas condições tão duras você não pode olhar para o exterior para encontrar a beleza, é preciso encontrá-la em você mesmo. Eu acho que é por esta razão que tantos músicos vêm de Manchester.
As “Divisões da Alegria” designavam as mulheres judias que os nazistas usavam como escravas sexuais nos campos de concentração, o que valeu à banda suspeitas de ser simpatizante nazista…O problema era que os outros nomes que a gente tinha pensado não eram bons: Hooky (o baixista) tinha pensado em Slaves of Venus, Steve (o baterista) em Sunshine Valley Dance Band. Eu vi o nome Joy Division lendo um livro sobre nazistas. Eu sabia que era um pouco duvidoso, mas na época do punk era o nome mais provocante. Nós jamais fomos neonazistas.
Você considerou abandonar o rock depois do suicídio de Ian, em 1980?Sua morte asfixiou toda a criatividade em mim durante 6 meses. Felizmente, o instinto de sobrevivência levou vantagem. Decidimos formar um novo grupo, o New Order, e de só tocar canções inéditas, nada de Joy Division. Nós lançamos um álbum intitulado
“Movement”, em 1981, mas eu não fiquei satisfeito. Foram necessários quase 2 anos para voltarmos à ativa de verdade.
Como surgiu a idéia de misturar o rock e o dance que o New Order foi pioneiro?Indo às boates de Nova York. Era uma progressão natural porque algumas músicas do Joy Division, como
“She’s Lost Control”, incorporavam ritmos meio
dance. E depois eu estava super envolvido com a tecnologia, os sintetizadores começavam a aparecer na
dance music. A gente completou a mudança na direção eletrônica com
“Everything’s Gone Green”, depois
“Temptation” e, claro,
“Blue Monday”.
* entrevista publicada na revista Nouvel Observateur